Uthopia song II
O dia está triste, baby…
e todos sabem que eu ando pra baixo
mas eu terei minha vingança
Em breve!
Meus cantos selvagens farão o chão estremecer.
Da montanha mais alta
contemplarei sua destruição.
Das trevas, cinzas e escombros,
nascerá um dia leve
suave como pluma
& com néctar de tangerina.
Mais doce ainda
lábios de bela menina
Canção desconhecida de meninos e meninas III
Acordou de manhã e a garota estava ao seu lado. O cheiro de cigarro emanava do interior de sua alma. Compreendeu porque havia sonhado com incêndios. Quando conseguiu discernir alguma coisa em meio à bruma cerebral que segue o instante do despertar, percebeu que aquela não era a sua casa. Tentou lembrar do que acontecera na noite passada, mas foi impossível. Sua cabeça latejou dizendo que ele havia bebido demais. Ficou ali parado por algum tempo observando a garota dormir aconchegada em seu peito. Ela abriu os olhos lentamente. Tinha lindos olhos azuis, embora parecessem meio frios:
– Bom dia, quando você sair tranque a porta e jogue a chave por baixo, sim?
Ele nem precisou falar nada. A garota sacava das coisas. Sabia que era mais fácil deste jeito. Provavelmente também não lembrava do que tinha acontecido na noite anterior. Beijou-a carinhosamente e disse meio sem jeito:
– Muito prazer em conhecê-la.
Levantou e vestiu as roupas sob um olhar atento. Os olhos azuis revelavam confiança e preguiça matinal ao mesmo tempo.
Quando fechou a porta e ganhou a calçada, o sol da manhã quase o deixou cego. Jogou os restos do pacote de camisinhas na lixeira e pensou que na verdade nem havia conhecido aquela garota. A vida era estranha e tinha gosto bom. Mas os muros da cidade eram muito altos.
Poi Zé.
Claustrophobia
Mal consigo respirar
Vós desejais o ‘alcançar o topo’. Sucesso!
Mas este é um espaço mui restrito
Pilhéria do sistema, não há lugar para todos
no cume.
Poucos em detrimento de muitos. Mesmo
assim quereis…
Ó insaciável demência!
As palavras vestem máscara de anjo
& de demônio para a batalha.
Ferem como farpa pontiaguda. Vence
o mais impetuoso & eficaz com o machete.
Ele pode fazer até a alma de um drugue sangrar
Com a ultraviolência de uma panthera
negra, faminta & traiçoeira
Dilacera a carne e os sonhos no jantar
Como o garoto que brinca na rua poeirenta ao pôr-do-sol,
eu só quero ser puro.
Anseio por um ar que dê fôlego a meu
pulmão desajustado & cancerígeno.
Os puros não choram lágrimas quentes de
solidão…
Poi Zé.
24 Hrs.
Sozinho. Sala do apartamento. Pela manhã observava os prédios com olhos de caleidoscópio enquanto o dia seguia cinzento. Ouvia os pássaros cantarem dentro das gaiolas no pet shop da esquina. Sentia-se um pouco como eles. E daqui a pouco, ainda teria de trabalhar.
Noite…
Morfeu!
Tito e Tarântula tocavam naquele bar de strip-tease
Uma morena de coxas grossas sempre dançava
nua
em cima da
mesa.
Tequila!!
Certo Dia
Ela me olhou diferente
Olhos profundos e devoradores
Ela beijou e sugou-me a alma
Foi molhado e intenso
Deslizei minha mão até o seu sexo
Veludo…
Seu namorado protestou imediatamente
Enfiei-lhe uma bala bem no meio da testa
O sangue escorreu lentamente…
Segundos.
Morte.
Orgasmo.
ACORDOU COM UM SUSTO. Um maldito carro de propaganda fazia a janela de seu quarto tremer com seus contos ilusórios de felicidade. Não quero comprar nada! Deixem-me em paz! Adormeceu na noite anterior pensando em Joana.
– Pior é encontrá-la nos botecos sempre com um cara diferente! – dizia aos amigos. O morno resplendor de uma carícia é apenas a sombra de uma lágrima. Sempre lembrava das frases de Efraim.
– Você transou com a melhor amiga dela, cara! – lembrava-lhe Caio – Mas se bem que ela era um docinho…
Levantou-se vagarosamente, vestiu a roupa, escovou os dentes e saiu para a labuta diária. Impostos & trabalho são os fardos da civilização capitalista. A leitura & os sonhos & a masturbação são prazeres solitários.
Poi Zé.
Sociedade
Ela me quer barbeado.
Juventude cerceada… Yeah velho Buk!!
Espreitam a lâmina nos pescoços…
Quantas pessoas especiais foram mudadas?
Endurecidas lentamente com a suavidade impiedosa dos grãos de areia
de uma ampulheta velha. Ninguém percebeu…
Odiosa amada minha!
Estou distante demais para permanecer próximo
e muito perto
para manter a distância necessária.
Morri mil vezes e apenas um segundo se passou…
Lição aprendida! Deseje-me sorte.
Quando tiveres um momento de felicidade, grite o mais alto possível.
AAAAHHH!
Faça os ouvidos dela sangrarem.
Poi Zé.